Sempre gostei muito de assistir a filmes. Já as séries ganharam espaço na minha vida (e no meu coraçãozinho) depois de alguma insistência. Na verdade, por um tempo eu nem fazia questão de tentar assisti-las, porque tinha preguiça de acompanhar algo tão longo ou demorado.
A primeira que encarei foi Prison Break, na época em que eu estava no cursinho pré-vestibular. Ela se tornou minha principal válvula de escape, junto com a saga Crepúsculo (os livros, no caso).
Eu dividia apartamento com outros 3 estudantes em São Paulo (capital), não tinha muitos amigos por lá e nem um familiar por perto. Estava lá exclusivamente para estudar e passar no vestibular (mirei na USP e acertei na UFV #grazadeusa), e meus companheiros de jornada eram os livros e a série, que nas horas vagas de estudo deixavam meus dias de estudante-com-dinheiro-contado-para-lazer mais leves.
Literatura e cinema salvando nossa saúde mental, as always — o que muita gente só veio a constatar de forma mais contundente agora, em isolamento social por conta da pandemia da COVID-19.
O ano era 2009 (ou seja, 10 anos antes do aparecimento desse vírus maldito) quando fiquei viciada em Prison Break. Peguei emprestados os primeiros DVDs e depois comprei o box completo das temporadas que faltavam. Não é louco pensar como o mundo muda tanto em tão pouco tempo? Nem sequer existiam os serviços de streaming ainda!
Sem falar que Michael Scofield virou meu crush supremo (quem nunca? rs). Mais pela inteligência que pela beleza, devo frisar sem medo de soar demagoga. Eu fiquei extremamente intrigada, sobretudo, a respeito de como alguém conseguira criar uma trama tão envolvente.
Depois disso, fiquei um bom tempo sem ver nenhuma série — praticamente a faculdade inteira. Nesse período eu vivia falando que queria ver How I Met Your Mother, e um colega que tinha baixado até ficou de me passar por pen drive — é, gente, Netflix e Prime Video nasceram ONTEM, real! Agradeçam vocês (ou não) que já nasceram nesse mundo como ele é hoje, porque pode até não parecer, mas ele não era assim até pouquíssimo tempo atrás. (Pronto, virei quem eu mais temia: a tiazona que fala “ah, mas no meu tempo…”).
Enfim, por causa desse rolê de ter que baixar e/ou pegar os episódios com alguém que já tinha baixado (ou comprado os DVDs), eu acabava achando meio trabalhoso e largando de mão, tanto que nunca assisti a HIMYM.
Só fui engatar uma nova série depois de já ter me formado, mais precisamente quando fui morar com meu então namorado (agora marido). Nos primeiros meses, a gente acabou gastando muita grana saindo para comer fora, nosso programa favorito. Depois de um tempo, percebemos que precisávamos dar uma maneirada nas saídas e a forma que encontramos de nos divertir nos fins de semana sem arruinar nossa conta bancária foi nos jogar nos filmes e séries — caminho sem volta.
Desde então, de uns 4 anos para cá, já maratonamos Breaking Bad, Narcos, La Casa de Papel, Bates Motel… Achei todas essas séries bem boas, porém eu ficava com uma aflição enorme e uma energia pesada, principalmente por conta das cenas de violência. Assim, mudamos um pouco o estilo e vieram (não necessariamente nessa ordem): As Telefonistas (que amei até a 3ª temporada), Coisa Mais Linda, Atypical, This Is Us e Anne With An E (essas duas últimas, minhas preferidas da vida).
Por último, estamos assistindo The Crown, depois de começar uma e outra e não dar continuidade: Maravilhosa Sra. Maisel, que tinha sido muito bem recomendada, mas não conseguimos engatar; Outlander, que também não engrenou; e Dark, que me cansou com toda aquela loucura de idas e vindas no tempo (haja neurônio, pqp!). Nesse meio tempo, finalizamos rapidinho (em dois fins de semana, se não me engano) O Gambito da Rainha.
Mas aonde quero chegar e o que isso tudo tem a ver com o título do texto?
Além de proporcionar entretenimento, tenho notado o quanto a arte, de modo geral — embora aqui eu esteja me referindo mais especificamente a cinema, música e literatura —, tem o poder de conversar com nosso íntimo e de despertar emoções, reflexões e sensações diversas, representando e ressignificando algumas de nossas vivências reais.
A partir de uma identificação que temos com determinados personagens e enredos, vamos fazendo alguns paralelos com nossas vidas — muitas vezes, “sem querer” ou mesmo sem perceber de imediato —, enxergando situações vividas por uma ótica diferente, de modo que realidade e ficção se misturam, provocando uma espécie de “rebuliço interno”. Aquele choro doído em determinado episódio aconteceu simplesmente pelo que vimos na tela ou pelo que se passou dentro de nós e a que determinada cena nos remeteu?
Isso ficou bem pulsante em mim, principalmente, em This Is Us, Anne With An E e Atypical, muito provavelmente por serem séries que abordam de forma mais direta os dramas humanos e de relacionamentos. Já As Telefonistas e Coisa Mais Linda me despertaram aquela famosa “saudade do que não vivi” — amo produções de época!
Comecei a reparar mais também não só nas histórias propriamente ditas e nos detalhes do roteiro, mas também nos cenários, figurinos, fotografia, trilha sonora e nessa sinergia incrível entre vários tipos de arte que compõem uma película. A gente acaba assistindo a filmes por conta de livros que leu (e vice-versa), conhecendo músicas e artistas por causa de filmes e séries, e por aí vai…
Anne With An E, em especial, me acertou em cheio: me apaixonei perdidamente pela história, pela trilha sonora, e estou louca para ler a saga de livros que deu origem à série. Já assisti também aos filmes/minissérie gravados em meados de 1985, baseados na mesma história.
Fiquei curiosa para saber mais sobre os atores, produtores e roteiristas, ávida por compreender mais a fundo o que está por trás de uma produção tão bela, sensível e bem construída, capaz de despertar sentimentos tão genuínos, tratando de assuntos atuais e considerados “polêmicos” de forma tão leve e até poética.
Em meio a todos esses devaneios, correlacionando alguns aspectos dessas produções com minha vida, um dia me peguei pensando em como seria se ela fosse um filme (ou série) — a imaginação fértil talvez tenha me conectado à Anne. Assim, me vieram à mente memórias de momentos que — nas minhas recordações, pelo menos —, pareciam cenas de filme.
Selecionei dois, em especial, que vou relatar agora da maneira mais fidedigna possível (em relação às minhas memórias, no caso), mas também brincando um pouco de ser escritora/roteirista por um dia. 3, 2, 1… Gravando!
A história do meu pedido de casamento (que felizmente é bem diferente de “História de um Casamento”, embora o filme seja ótimo)
Eu tinha me mudado para BH com meu “namorido” havia alguns dias (ou semanas, não me lembro ao certo). Estávamos morando provisoriamente em um apart-hotel e procurando apartamento para alugar. Naquela tarde, Bruno foi (provavelmente) fechar negócio com o simpático corretor de imóveis que nos mostrou o apê de que mais havíamos gostado até aquele momento (e que cabia no orçamento), e eu fui procurar um vestido para o nosso noivado, que ocorreria na semana seguinte.
Depois de “bater perna” sozinha, e sem muito sucesso — encontrei peças lindíssimas nas lojas da Savassi, que se tornaria um dos meus lugares preferidos na capital mineira, mas o bendito vestido para o noivado, nada — decidi me sentar em um café nas redondezas e pedi um cappuccino. Na verdade, não tenho certeza se foi isso mesmo que tomei, mas como eu amo de paixão, e pode dar um charme extra à cena que vem a seguir, vamos imaginar que seja.
O café ficava na famosa “Praça da Savassi” que, na verdade, é tipo um “calçadão” ou um quarteirão fechado com várias lojas, bares, cafés e mesinhas na calçada. Enquanto apreciava minha bebida e observava as fontes de água dançantes à minha frente (tenho essa imagem bem nítida na minha memória), eu me senti plena e absoluta em minha própria companhia como poucas vezes na vida.
Ironicamente (ou não), naquele exato instante, recebi uma mensagem de texto que me despertou do meu “transe”. Nessa mensagem, meu namorado-quase-noivo me pedia para que eu fosse até o apart-hotel em que estávamos hospedados e arrumasse uma muda de roupas para mim e outra para ele — sem mais explicações.
A comemoração do nosso noivado se aproximava, conforme mencionei, e ele ainda não havia feito um pedido oficial. Sempre desejei (e não escondia) ser “surpreendida com algo inesperado” (meio paradoxal, eu sei, mas aparentemente ele tinha entendido o recado).
Lembro-me do coração acelerado e das borboletas no estômago enquanto eu percorria, a pé, o caminho do café até o apart-hotel. Devem ter passado milhares de coisas pela minha cabeça — aquele momento em que meus “Divertidamente” estavam em polvorosa.
Chegando ao nosso quarto, eu não sabia que tipo de roupa deveria levar, e a adrenalina do momento só fez a escolha ficar ainda mais confusa: devo pegar roupas mais chiques ou mais casuais? Uma “chique” e outra casual, talvez? Salto? Maquiagem?
Eu não sabia o que aconteceria em seguida e para onde estávamos indo, afinal. Poderia ser um hotel chique ou uma cabana no meio da floresta (spoiler: era um misto dos dois, risos). Fiquei desesperada pensando que não estava depilada nem com a unha feita (mais risos, agora de nervoso).
Dali a pouco, Bruno chegou e ficou me mandando mensagem para eu descer logo que ele estava me esperando no carro. Fiquei ainda mais desorientada com a pressão e sem saber o que colocar na mala, tanto que nem me lembro como fiz pra decidir o que levaria. Quando finalmente desci, ganhei uma linda orquídea com um cartão, mas ainda nenhuma pista concreta. Estava começando a anoitecer e Bruno ficou desapontado porque o plano era chegar ao nosso destino antes do pôr do sol.
Ouro Preto? Macacos? Lavras Novas? Algum hotel em BH mesmo? Fiquei tentando adivinhar, mas não acertei. Só descobri mesmo quando chegamos: era uma pousada em Brumadinho. O quarto tinha lareira e banheira com vista para a serra. Bruno levou uma garrafa de um belo espumante. Parecia o cenário perfeito — e era —, mas nem tudo saiu conforme as expectativas…
Depois de ele me dizer algumas palavras lindas sobre a importância daquele momento para nós dois, fomos jantar no restaurante da pousada. Eu sabia que as alianças não estavam prontas — porque fomos juntos escolhê-las alguns dias antes —, mas esperava que houvesse algum tipo de “formalização” ou “o momento do pedido”, que poderia muito bem acontecer durante o jantar.
Contudo, além de a comida estar bem mais ou menos, o pedido não aconteceu — e eu comecei a perceber que não aconteceria da maneira que eu havia idealizado. Aí o negócio começou a “azedar”… Iniciamos uma discussão assim que voltamos para o quarto. Eu não me conformava de que ele tivesse preparado tudo aquilo sem a intenção de proferir o fatídico “quer casar comigo?” em tom solene — e não posso perder a chance de atribuir a culpa aos malditos contos de fada.
Para o Bruno, o fato de estarmos ali a sós com a presença daqueles elementos — flores, espumante, banheira e lareira — na véspera do nosso noivado que seria celebrado em família já simbolizava um “pedido”. Para mim, no entanto, faltava algo. Ele ficou chateado por eu ~supostamente~ não valorizar o empenho dele, e eu por ele ~supostamente~ negligenciar o principal (ou que eu achava que era).
Estávamos prestes a “estragar tudo”, cada um com suas razões e convicções, quando surge um “elemento” totalmente inesperado na cena. No meio da nossa discussão, entrou pela janela (que havíamos esquecido aberta) um inseto voador enorme. Eu, que tenho pavor de insetos — ainda mais se forem grandes e voadores —, corri e me escondi debaixo das cobertas. E onde é que o bicho foi pousar? Justamente em cima da minha cabeça — só que por cima do cobertor. Ufa? Que nada, pânico geral!
Não sabíamos que tipo de inseto era aquele (parecia um besouro gigante), se era venenoso ou se poderia nos atacar. Bruno falou para que eu não me mexesse, e precisou ter sangue frio para conseguir tirá-lo de lá com um travesseiro e jogar de volta pela janela, e então finalmente fechá-la para ficarmos a salvo. Não sei quanto tempo aquilo durou, talvez alguns minutos (para mim parecia uma eternidade), e foi o que acabou dissipando o clima de tensão — não sem antes criar uma ainda maior — entre nós dois e restaurando a paz e a harmonia, por fim. Fala se não parece cena de filme?
Na manhã seguinte, com a luz do dia, é que fui ter uma noção mais clara — literalmente — da beleza do lugar em que estávamos e da vista do nosso chalé no meio da serra (quando chegamos à pousada no dia anterior, já havia anoitecido). O café da manhã estava incrível e eu, enfim, senti um grande contentamento pelo que estávamos vivenciando — depois de quase colocar tudo a perder por conta de uma idealização. É, a vida não tem script.
Encontro de almas e amizade entre mulheres
A forma como conheci essa amiga poderia muito bem ser o primeiro episódio de uma série despretensiosa. Ela morava no apartamento acima do meu (aquele que fora alugado no “episódio anterior”), mas nunca havíamos nos visto pessoalmente. Um dia, tocaram o interfone perguntando se podiam deixar uma encomenda dela comigo, pois ela não estava em casa naquele momento.
Recebi a encomenda e ela passou pra pegar quando chegou do trabalho, no fim da tarde. Convidei-a para entrar e começamos a bater papo. A conversa estava tão boa que ela nos convidou para subir e conhecer o apartamento dela também.
Fui acompanhada do meu irmão, que estava passando uns dias comigo em BH, e só descemos de volta para meu apartamento tarde da noite. Assim que entramos pela porta, meu irmão falou: “Eu tô impressionado sobre como vocês duas são parecidas, tanto fisicamente quanto no jeito de ser!”. Depois disso, várias pessoas que nos viram juntas perguntaram — algumas chegaram a afirmar — se éramos irmãs.
De fato, temos muito em comum, e nos divertimos com isso, mas diferentemente de mim, Isabela sempre teve grandes habilidades manuais, além de um senso estético invejável e um olhar para o belo (fora do convencional) como nunca vi.
Ela pinta porcelanas lindíssimas à mão, já teve um negócio de mesa posta e depois abriu uma loja de objetos de decoração e utensílios para casa que refletiam todo o bom gosto e originalidade típicos dela, que fazia toda a curadoria dos produtos vendidos. Entrar naquela loja era uma experiência parecida com a de visitar uma galeria de arte. O fato de ficar no subsolo de um casarão antigo só aumentava o charme.
Quando, infelizmente (ou felizmente, já que a vida é feita de ciclos), Isabela decidiu fechar “a loja mais linda da cidade” — como eu carinhosamente chamava a Sois Plato —, eu e mais algumas amigas dela fomos ajudar a empacotar os itens que ainda estavam no estoque. Aquele clima de colaboração mútua, de todas ali querendo nada mais que simplesmente ajudar, dar apoio moral e mostrar que ela não estava sozinha naquele momento conturbado, foi algo bonito de se ver (e de participar).
Mulheres unidas por uma amizade e um propósito em comum, em meio a caixas e mais caixas pesadas que fomos carregando juntas escada acima, enquanto tomávamos uma cervejinha artesanal e comíamos uns petiscos maravilhosos (não me esqueço daquela coxinha de banana!), falando sem parar — senti-me em um episódio de “Coisa Mais Linda”!
Eu tinha até outros capítulos/histórias em mente, mas por enquanto vou parando por aqui. Comentem se quiserem mais, que daí eu posso pensar em escrever sobre essas outras. Dicas de filmes e séries também são bem-vindas! E você, alguma vez já relacionou fatos da sua vida com acontecimentos assistidos em produções cinematográficas?
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