Os textos que não escrevi

Fiquei um ~ mau tempo ~ sem escrever com frequência (falei um pouco mais sobre isso aqui neste outro post) e, por isso, acabei deixando escapar algumas histórias, situações — e minhas percepções sobre elas — que eu gostaria muito de ter registrado em texto.

A formação em jornalismo e, principalmente, a alma curiosa (o que, inclusive, me motivou a escolher este curso) me fazem estar sempre de “anteninha ligada” para o que acontece ao meu redor, principalmente as histórias de vida de pessoas que cruzam meu caminho — algumas das mais incríveis se encontram nos contextos mais improváveis, aliás.

Sendo assim, mesmo que eu não atue formalmente como jornalista hoje em dia, sinto-me quase na obrigação de dividir essas histórias com o mundo, colocando a serviço delas minha habilidade de escrita. Por isso a frustração de ter ignorado esse chamado em algumas situações específicas que busco resgatar agora, pelo menos em parte, fazendo uma espécie de mea culpa

Ainda que eu não consiga mais contá-las como eu gostaria, por ter se passado muito tempo e, assim, terem se perdido muitos detalhes importantes de que já não me recordo mais, quero dividir algumas reflexões em torno dessas histórias, que talvez façam sentido para mais pessoas, de modo que não passem totalmente em branco — assim como não fui capaz de passar incólume por elas.

Réveillon em Guarapari

Acredito que a principal dessas histórias que, infelizmente, deixei (ou perdi o timing) de contar tenha sido a de uma conversa que tive com um barqueiro em Guarapari- ES, na virada de 2013 para 2014, durante um passeio com meu (então) namorado e mais dois casais de amigos nossos, com quem passamos o réveillon.

Na época, eu ainda estava fazendo meu TCC e não tinha forças para mais nada — só queria saber de descansar por alguns dias na praia. Mas não me perdoo por não ter escrito sobre ele, pelo menos, algumas semanas (ou até alguns meses) depois, quando já havia passado toda a correria da formatura e eu estava com aquela história, que balançou meu coração, ainda fresca na mente.

Tal episódio me marcou tanto que, mesmo não me lembrando mais dos pormenores, nunca mais tirei isso da cabeça. Se não me falha a memória, o apelido do barqueiro era “Cacau”. Fiquei martelando na época: “preciso escrever sobre ele”, mas acabei deixando passar e perdendo a chance de fazer chegar a mais pessoas o perfil de um homem comum, com uma história de vida fascinante.

Essa é uma das premissas (e dos encantos) do jornalismo literário: dar protagonismo a figuras anônimas. Autores(as) consagrados(as) dessa vertente jornalística — pela qual me apaixonei no 6º período da graduação, quando tive essa matéria — provam que todo ser humano, por mais comum que possa parecer, tem algo de valor (ou de interessante) a ser revelado para o mundo.

Histórias de vida extraordinárias podem ser encontradas por trás de perfis ordinários (no sentido de comuns mesmo), especialmente se o(a) repórter/jornalista/escritor(a) souber fazer as perguntas certas e, principalmente, se tiver sensibilidade para captar detalhes além das palavrasgestos, olhares, silêncios — ouvindo e observando com atenção.

Tenho ainda uma vaga recordação da fisionomia e dos olhos benevolentes de “Cacau”, cuja pele cor de chocolate justifica seu apelido, provavelmente. Um dia, se tiver oportunidade de voltar ao litoral capixaba, quem sabe eu o procure por lá para desvendar sua biografia —  se eu tiver a sorte de encontrá-lo.

Lembro-me de que o que mais me despertou interesse sobre a história dele envolvia algo sobre uma travessia de vários dias feita com sua família a partir da região norte ou nordeste do país — não me recordo ao certo — até o Espírito Santo, por via marítima.

Lua de mel na Colômbia

Outro momento que também queria muito ter registrado em texto — e não somente em belas fotografias que guardo de recordação daquele país que eu sequer havia cogitado visitar até então — foi de quando viajei para a Colômbia na minha lua de mel, em 2017

Fui acometida por sensações e reflexões bastante impactantes, e cheguei a escrever em uma legenda de uma foto que postei no Instagram que o casal que voltou daquela viagem não era o mesmo que tinha ido. Ela foi especial não somente pela ocasião da lua de mel propriamente dita, ou mesmo pela oportunidade de viajar e conhecer novos lugares, pessoas, comidas etc. (coisa que a gente ama fazer, independentemente do destino).

Havia um sentimento particular em relação à pujança cultural e ao simpático (e sofrido) povo colombiano. Acontece que, mais uma vez, deixei escorrer por entre os dedos (ou pela memória) os motivos específicos e os momentos que me provocaram aquela sensação (para além dos “estereótipos” sobre viajar e sobre o país em si), perdendo a chance de escrever e compartilhar tudo isso com mais riqueza de detalhes.

Não seria nada mal também ter uma chance de retornar à Colômbia, embora nenhuma viagem possa ser igual, ainda que você faça o mesmo roteiro e tente repetir a experiência nos mínimos detalhes. Afinal, por mais clichê que seja essa ideia, é fato que já não somos mais os mesmos a cada dia que passa. Ou, como diz o ditado: “Não se banha duas vezes no mesmo rio”.

A paisagem, por exemplo, pode estar lá, aparentemente intacta desde a última vez que foi contemplada, mas o olhar de cada um certamente já terá mudado, ainda que não tenhamos uma percepção clara ou consciente disso a cada momento. Um mesmo lugar, situação ou circunstância pode nos extasiar inúmeras vezes, mas sempre será de maneiras diferentes, mesmo que não reconheçamos essas diferenças de imediato.

Além disso, a experiência completa de uma viagem depende muito de elementos que simplesmente não podem ser controlados e muito menos reproduzidos nas mesmas condições, como as pessoas que encontramos pelo caminho, os imprevistos que, muitas vezes, rendem momentos inesquecíveis (bons e ruins) etc.

Ainda pretendo escrever um post com dicas sobre Cartagena e Bogotá, que foram as cidades por onde passei naquela viagem de lua de mel. Quem sabe, escrevendo e revendo as fotos com atenção para mergulhar novamente naquele “universo simbólico” do país que superou seus anos mais duros e revelou seu potencial turístico há tão pouco tempo, eu consiga resgatar à superfície aquele sentimento que ficou latente aqui dentro.

De toda forma, este texto é para me lembrar de não mais adiar tanto nem deixar de escrever sobre essas vivências marcantes que vão formando minha bagagem de vida. Afinal, para quem gosta e tem habilidade de escrever, esses acontecimentos são como presentes que nos são dados, não para desfrutá-los egoisticamente, mas para compartilhar parte desse encanto sob a perspectiva do nosso olhar com outras pessoas que, mesmo vivenciando situações parecidas, talvez não consigam desvendar a beleza oculta que mora, tantas vezes, no simples ou no que é aparentemente frugal.

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Publicado por Maíra Caixeta

Jornalista por formação e escritora por paixão. Trabalho com marketing de conteúdo, faço "bicos" como maquiadora, amo viajar e comer, então resolvi criar este espaço para compartilhar um pouquinho de tudo isso.

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